2012-06-07

Matriarcado

DISPUTA ENTRE NANÃ BURUKU E OGUM
(Segundo Pierre Verger)


"Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.

Um dia eles vão a uma reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens. Eles falam sobre Exu:

-"Ah! É um importante mensageiro!"

Eles falam muita coisa a respeito de Ogum. Eles dizem:

-"É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre nós!"

Nanã Buruku contesta, então:

-"Não digam isso. Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"

Os demais orixás respondem:

-"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".

Nanã concluiu que não renderá homenagem a Ogum.

-"Porque não haverá um outro Imalé mais importante?"

Ogum diz:

-"Ah!Ah! Considerando que todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você também o faça."

Nanã responde que não reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo.

Ogum perguntando:

-"Você pretende que seja dispensável?"

Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.

Ogum diz então:

"Muito bem! Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas".

Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.

Ogum questiona:

-"Como você o fará? Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos".

Os filhos de Nanã eram caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs Ogum a Nanã".

(Lenda retirada do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)

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